Wednesday, April 11, 2007

A TABERNA DO CHICO GUELA


Longe da Avinho, a Taberna do “Chico Guela” é a única resistente na freguesia de Aveiras de Cima. Há setenta e quatro anos com a porta aberta, a taberna ainda tem alguns clientes fixos, mas poucos, pois os tempos são outros e os fregueses já não procuram, na maioria, estas casas para “matar o bicho”


A taberna do “Chico Guela” é a última taberna de Aveiras de Cima. O estabelecimento já tem mais de setenta anos, e os proprietários actuais, já viram o negócio a correr melhor.
Ofélia Seabra de 74 anos, herdou o negócio do pai. Já lá vão trinta anos e cada ano “tem sido pior que o outro”. Casada com Francisco Vieira com oitenta anos, Ofélia diz que cada dia é um dia diferente e longe vão os tempos de casa farta e com muitos clientes. Hoje os tempos são outros, e de tempos a tempos lá vai aparecendo um cliente novo. Ofélia Sequeira lamenta que a falta de fregueses “os velhos vão morrendo, olhe ainda no outro dia morreu um, e os novos não vêm cá”.
A taberna do “Chico Guela” fica na rua Francisco Almeida Grandella em Aveiras de Cima, e longe da Avinho “o ano passado até fechamos mais cedo” diz Ofélia que refere o facto da maior e mais nova festa da freguesia ironicamente ligada ao vinho, não lhe trazer clientes novos.
Os novos, diz, não vão à taberna “não temos café, e não estamos a pensar nisso, porque teríamos de mudar muitas coisas” refere ao Vida Ribatejana, destacando que os tempos de hoje são difíceis.
Ofélia não tem o estatuto de reformada “não descontei, e por isso tenho de continuar aqui” mas o marido Francisco Vieira está reformado há alguns anos, ainda assim prefere dar uma ajuda à mulher.
Quase todos os dias, o ritual é o mesmo. Sem dia de folga, Ofélia e Francisco revezam-se para manter aberta a taberna, que ainda tem alguns clientes fixos, mas tudo pessoas de idade “já que os novos não nos ligam nenhuma, só os drogados” lamenta.
Ela abre a casa ás 6 da manhã para alguns clientes, ele pega depois de almoço e permanece até, muitas vezes, à meia-noite.
E enquanto a saúde vai ajudando, este casal de idosos, vai mantendo o seu ritmo de trabalho, embora os dias sejam muito diferentes do tempo em que não havia cafés, e que a taberna era o ponto de encontro de novos e velhos.
Aliás, Ofélia Seabra e Francisco dizem ter saudades do antigamente. Se por um lado o negócio era próspero, por outro “era mais novo. Carregava com sacas de cem quilos ás costas. Hoje não posso fazer o mesmo” diz Francisco lamentando também o facto de muitas vezes pelo meio-dia, altura em que chega à taberna “só tenho cinco euros na gaveta, e ás vezes nem isso”.
A Avinho, decorre já no próximo fim de semana em Aveiras de Cima, mas para este casal, o vinho é o negócio de todos os dias, talvez por isso não depositem grande fé no certame, que vai decorrer longe da rua principal da vila e que de certo não irá trazer novos clientes a uma taberna que está na mesma família há mais de setenta anos e que marca o dia-a-dia de alguns clientes habituados a outra vivência e de um outra geração.

1 comment:

Unknown said...

Muito bom o artigo.
Eu sou neto do Chico Guela e da Ofélia e sei muito bem do que falam.

Toca a visitar a taberna que serão muito bem atendidos.

E viva a tasca do chico Guela