Sunday, July 13, 2008

Casais (de)Baixo de fogo



Ao fim de cinco dias de combate ao maior incêndio do país até ao momento, os bombeiros de Azambuja fazem as contas. 374 Hectares de floresta ardidos, combatidos por mais de 300 homens, que apagaram um enorme fogo, que poderá ter tido origem num cigarro deitado pela janela de uma viatura na auto-estrada do norte



Um cigarro atirado de um carro em movimento na auto-estrada do norte, poderá ter sido a causa do primeiro grande incêndio do ano que lavrou em Casais de Baixo, concelho de Azambuja. As causas ainda não estão suficientemente claras, mas segundo Pedro Cardoso comandante dos voluntários de Azambuja, essa é até à data a causa mais plausível tendo sido investigada até à exaustão pelas autoridades.
Uma semana depois deste incêndio, que queimou 374 hectares de floresta, ainda eram visíveis os traços de um dos fogos mais violentos nos últimos anos em Azambuja. O Vida Ribatejana teve ocasião de acompanhar Pedro Cardoso, numa volta à floresta, ou ao que resta dela.
Num primeiro olhar, deu para ver o vasto pinhal e eucaliptal completamente cinzento, sem qualquer tom de verde misturado pela paisagem. Deu também para ter a noção das dificuldades que o terreno, acidentado e sem acessos, causou aos mais de trezentos bombeiros vindos de todo o distrito de Lisboa, Santarém e Leiria.
Aos poucos, explica Pedro Cardoso ainda visivelmente emocionado, o fogo foi crescendo “tivemos projecções de 800 metros” salienta o operacional vincando o empenho onde todos que combateram este sinistro.
A nossa viagem prossegue em direcção à auto-estrada do norte, o local onde tudo começou.
Ainda era sexta-feira, dia 4, e o sinal de alarme, não fazia prever o pior. Aos poucos os bombeiros foram-se deslocando para o local sem aparentemente pensar que um simples e banal fogo como tantos outros tomaria as proporções que mais tarde se vieram a revelar.
Pouco tempo depois chegavam reforços “este é forte” gritava um popular ao Vida Ribatejana, já depois de ter estado junto dos bombeiros.
De facto e para quem lá esteve, este incêndio não seria vulgar, nem fácil de dominar. As chamas já atingiam alguns metros de altura e foi num ápice que passaram de uma zona aparentemente controlada para o mato que estava à volta, isto através das projecções, ou seja algumas folhas de árvores a arder que caíam noutro local.
Nesta viagem ao centro de tudo, Pedro Cardoso foi enumerando as dificuldades passadas em quase cinco dias, tantos quanto durou o fogo.
Junto à auto-estrada ainda eram visíveis os restos de um primeiro combate ás chamas. Nada de especial terão dito alguns, aliás junto à auto-estrada terá ardido pouco, mas ao lado numa primeira vista de olhos o cenário era bem diferente. Centenas de pinheiros e eucaliptos queimados e sobretudo um mar de cinza que cobria toda a área como se uma pintura se tratasse. Um facto incontornável salienta o comandante “a Brisa, em presa concessionária da auto-estrada, apenas limpou cerca de um metro à beira da estrada. Tudo o resto ficou por limpar”. Algo que neste caso e segundo o operacional, teria feito toda a diferença.
A viagem continua. Voltamos a subir a serra. Onde antes existia o verde dos pinheiros e eucaliptos, agora existe um castanho acinzentado, acompanhado de intenso cheiro a queimado.
De um lado e de outro, tudo queimado, apenas subsiste o castanho claro da areia da estrada, talvez porque terá sido aberta durante o fogo, caso contrario teria a mesma cor cinzenta.
A poucos metros dali, Cardoso pára numa colina por momentos. Aponta com alguma resignação para horizonte, que visto dali parece o infinito e que se perde de vista entre as copas das arvores totalmente queimadas o azul do céu e o castanho da paisagem, lamentando o facto dos proprietários ainda não teremos a noção da necessidade de limpar as matas “mas isto fez com que alguns o fizessem de emergência. Para o ano se calhar voltamos ao mesmo” desabafa.
A inspecção prossegue e aos poucos, o operacional lá vai dando conta de mais dificuldades. Chegamos ao topo da serra, dali via-se tudo e com pormenores que até ali seriam impensáveis de ver.
Mesmo por cima de nós, uma linha de muita alta tenção. Não caiu nem esteve na origem do fogo, mas segundo a lei, existe a obrigatoriedade de haver uma limpeza à volta das torres “e como vê, não há aqui nada disso” esclarece o comandante.
Na mesma zona outra dificuldades. Com o eucaliptal plantado em socalcos, e com os ventos fortes “formou-se aqui o efeito chaminé” o que resulta em remoinhos de chamas e altas temperaturas.
Em poucos minutos encontramos um carro dos voluntários de Azambuja. É quinta-feira dia 9, e os voluntários ainda estão no terreno à espera de agir no caso de haver reacendimentos.
São cinco os elementos que esperam não ter de trabalhar, tal é o desgaste provocado nos últimos dias. Ainda aguardam um desfecho calmo e com o rescaldo total do fogo, poderem voltar para casa, para junto das famílias.
Ao lado fica a localidade de Casais de Baixo. Pedro Cardoso afirma que existiu o perigo do fogo devorar algumas habitações, mas o controle dos meios e a ajuda dos populares, colocou a salvo as casas e os habitantes, que também ajudaram no combate ás chamas.
Para muitos, este fogo representou “um abre-olhos, para que os terrenos sejam limpos” referiu um morador da localidade. Mas para outros “isto ainda vai acontecer mais vezes. Está tudo sujo por ai a cima” exclama um popular que com os nervos até preferiu não falar à nossa reportagem.
Para Pedro Cardoso, este foi um verdadeiro teste à operacionalidade dos meios, o qual passaram com distinção.
Tendo sido o maior incêndio do país até ao momento, o operacional deseja que este não seja um mau pronuncio para a época que está a chegar “mas estou um pouco céptico, pois tenho receio que isso venha a acontecer, porque o feno cresceu muito e os incêndios poderão propagar-se com muita violência e rapidez” afirma o comandante.






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